1
Apenas
dor no mundo inteiro eu via,
E
tanto a vi, amarga e inconsolável,
Que
num véu de tristeza impenetrável
Multiplicava
as dores que eu sofria.
Se vislumbrava
o riso da alegria
Fora
dessa amargura inalterável
Esse
prazer só era decifrável
Sob
a ilusão da eterna fantasia.
Ao
meu olhar de triste e de descrente,
Olhar
de pensador amargurado,
Só
existia a dor, ela somente.
O
gozo era a mentira dum momento,
Os
prazeres, o engano imaginado
Para
aumentar a mágoa e o sofrimento.
2
Misantropo
da ciência enganadora,
Trazia
em mim o anseio irresistível
De
conhecer o Deus indefinível,
Que
era na dor, visão consoladora.
Não
o via e, no entanto, em toda hora,
Nesse
anelo cruciante e intraduzível,
Podia
ver, sentindo o Incognoscível
E a
sua onisciência criadora.
Mas
a insídia do orgulho e da descrença
Guiava-me
a existência desolada,
Recamada
de dor profunda e intensa;
Pela
voz da vaidade, então, eu cria
Achar
na morte a escuridão do Nada,
Nas
vastidões da terra úmida e fria.
3
Depois
de extravagâncias de teoria,
No
seio dessa ciência tão volúvel,
Sobre
o problema trágico, insolúvel,
De
ver o Deus de Amor, de quem descria,
Morri,
reconhecendo, todavia,
Que
a morte era um enigma solúvel,
Ela
era o laço eterno e indissolúvel,
Que
liga o Céu à Terra tão sombria!
E
por estas regiões onde eu julgava
Habitar
a inconsciência e a mesma treva
Que
tanta vez os olhos me cegava,
Vim,
gemendo, encontrar as luzes puras
Da
verdade brilhante, que se eleva,
Iluminando
todas as alturas.
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Livro:
Parnaso de Além-Túmulo
Médium:
Francisco Cândido Xavier
Autor
Espiritual: Espíritos Diversos
Ano:
1932